sexta-feira, abril 29, 2005



terça-feira, abril 26, 2005

Consagração

Naquela primeira vez em que ela o elevava no topo dos braços para o cimo dos céus queria amansá-lo um pouco. Só com um olhar controlar o pequeno ser. Sonhava ela com o futuro. Enorme. A vida dá grandes voltas e grandes voltas são dadas à vida. Frase feita. Não estava ali para pensar em mais. A criança tentava rechaçar o frio húmido que já se lhe incrustava na pele tenra. Tenra por ser recente. Recente por ser perene pois já o envelhecimento apoderava-se dela. Já a criança era tocada na espinha dorsal pelas dores deste mundo. Não havia sentires pecaminhosos. Ainda. Seria um dia homem para poder compreendê-los. Vivê-los. Afastá-los. Afagá-los. Haveria de ser um dia homem. Esta noite era o que era. Uma criança consagrada à noite. À virilidade da densidade da temperatura humedecida. E a mulher soltava águas que lhe devoravam o rosto já o filho amparava a iluminação da Lua. Não sentia. Não sentia. Mas o filho iria sentir. Por ele. Por ela. Por ambos. Entretanto ele só iría desejar o preenchimento de necessidades básicas. Uma. O querer sentir-se aconchegado. Mas antes. Ensinar-lhe a sentir. Como mais ninguém o fizera com ela. Iria apascentá-lo com um pouco da sua frugal frieza raramente partilhada desta forma. Não seria somente física. Agora era só um animal. Naquela altura. Da vida dele. Sentira só um frio físico. Sentiria mais tarde tudo. Por si. Por ela. Por todos. Tinha ultrapassado o rio do esquecimento para viver. Viver as paixões humanas. Os ódios. Os humores variantes e variáveis. Tinha para isso sufragado a barreira do corpo dela. E para isso suportou ela o implodir do baixo ventre em fragmentos de vida encarcilhados naquela biologia mágica. Obra dela. Fruto seu. Seria um dia fruto iluminado. De dentro para fora. Seria um guia. Um Guia da Almas.


Entretanto o tempo escorria lá no topo dos braços dela

sábado, abril 16, 2005

Sátira

Sôfrego
Sôfrego
E "eu" que já era assim
Satiricamente desordenado
Pela Cupidez Socialmente discreta
Obtuso pois
Ainda não perdi a procura dos incapazes como fui
E aos meus irmãos e às minhas irmãs
Ainda estou por aqui
Venham ter comigo
Que nunca me perdi
No antagonismo dos histerismos
Apaziguados por equilíbrios disfarçados


Espero que me entendam

Nem eu próprio consigo explicar-me

Perdoem-me

E perdoa Pai

Porque não sabem o que deve ser feito


quarta-feira, abril 13, 2005

Do esquecimento

Ele existia e o desaparecimento já estava implícito para além dele o desaparecimento não repentino mas suportado como um processo doloroso algo que seguia pelo esquecimento e sorria perante o futuro inconstante e quem perguntava ele incessantemente quem seria o felizardo quem conseguiria sobreviver ao deslizar das águas perpetuamente centradas na sua função de tornar o tempo razoavelmente consciente pelas águas que saberia que passariam sempre debaixo da ponte e água que nunca é igual porque essa já fugiu para onde ele não sabia mas diziam-lhe que era para o mar das discórdias sobre o conhecimento do que havia de vir tornando-se parte de outro processo de mutações da água doce para a água salgada e depois em doce e depois em salgada doce e salgada doce salgada

Do Tempo ele não tinha medo do que ele tinha receio era do esquecimento da ausência de memória constante

Seria talvez um soalho

Rangia
Rangia sonolento
E como desesperava obtuso
Sob o abater abafado das solas dos pés calçados
Pesados
Nos Tamancos rudimentares
Ninguém teria conhecimentos comprovados
Do Seu sofrimento
Nem das suas elucubruções
Era Castanho
Só queriam saber disso
E o Soalho lá existia
Tinha a sua função
Todos sabiam
Menos ele
Que não queria nunca mais ser pisado
Nem ao de leve
Nem ao de forte
Só não sabia que servia de passagem
Também nunca saberia para onde

Sou chão pisado chão que sempre aqui estive juntaram peça por peça e fizeram-me um só o chão que me permiti sempre pisar e não posso revoltar-me mostrar qualquer emoção a não ser que me desmantele peça por peça e aí sim sentirão o que n sinto...

Ouvi dizer que assim decorre na vida para quem não....

quinta-feira, abril 07, 2005

E Agora? Agora...

Verde Submisso

Rotina Urbana

Quando a Árvore se despe

Pedras da Calçada que se esmagam sob um sol improvisado

Relevos Bipolares

Sombra: No lado Oposto respiro

quarta-feira, abril 06, 2005

"Hey Sr Fernando? Hoje vem com companhia para tomar cafézinho?"

segunda-feira, abril 04, 2005

A imagem da serenidade

A imagem da serenidade em ti mesmo fez-me recordar as tuas mãos as tuas mãos que sobressaíam de tudo o resto tinhas mãos perfeitas dizia-te e tu tinhas mãos grandes e tinhas mãos verdadeiras e cada veia pulsava e expelia o símbolo viscoso e sumarento que tinhas por dentro mas tinhas mãos que não gostavas dizias que eram mãos de velho e eu excitava-me com essas mãos eu sonhava com os momentos em que me brutalizavas com carícias com as mãos as tuas

A imagem da serenidade produz-se com violência aqui dentro a imagem da serenidade que abate as profundezas abrasadoras do destino onde tudo é infiel onde tudo é absolutizado por imagens relativas de ti mesmo

A imagem de algo que vive dias negros de convulsões incontroláveis

A imagem dos irmãos opostos tornada serenidade

A imagem incompreensível

A imagem

Só isso

Apenas