sábado, dezembro 24, 2005

História de Velho 3

"Aconteceu hoje. O homem dormia há oito dias no chão da sala. Reconhecido pelos vizinhos. Homem triste. Homem só. Falava de gente perdida e passeava achando-se nas ruas tortuosas. Da mente dele. Não queria ninguém perto dele. Tinha medo. O peso. O peso dos desgostos libertaram-no de obrigações para com o calor humano. O homem adormeceu sozinho e na tarde de hoje vieram perturbar o sono. Vieram perturbar uma solidão consentida e desejada de quem possui agora um olhar vazio de vida.

Boa noite homem."

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Transparência

Vejo sempre distâncias quando elas não deviam existir. Palavras que não interessam. Apenas as que não interessam. Porque não as entendo.

Espera só um pouco. Preciso de um dicionário. De uma enciclopédia. Receio não perceber todos os significados escondidos e sinto asco pelas entrelinhas.

Penso até que as ideias já se me atropelam quando as defendo.

Espera só um pouco que já volto. Vou só rever algumas acções que perdi. É que tenho um problema. Sofro de "lepra de ideias e de acções". O meu "braço" perde-se na escada do metro. Depois a "orelha" salta para a estrada. E nem pude agarrá-la a tempo. Um carro esborracha-a antes que os meus reflexos obedeçam às ordens do "cérebro".

Talvez já tenha perdido o meu "cérebro". Deve-se ter escapado pela "boca".

Agora sou um ser transparente. Porque tudo o que me compunha decompôs-se em ignorância.

Agora só tens de esperar só mais um pouco.

"Dona de casa desesperada" (...)

Hoje fiz um bolo de chocolate. A minha mãe fazia anos e por isso decidi fazê-lo. E normalmente não costumo cozinhar. Ou nunca cozinho. A expressão "dama do lar" nunca foi usada para ser aplicada à minha pessoa. Excepto, claro, como forma de ironia. Demorei quase três horas para que ficasse pronto e mesmo assim ficou pequenino, indefeso. Por cima, uma camada de chocolate derretido para disfarçar os defeitos de nascença. Mas ela gostou. E eu gostei ainda mais por isso mesmo.