sexta-feira, fevereiro 10, 2006

IV (Brainless therapy)

1 - Quando era um projecto de gente com uns 4 anos, lembro-me que a minha irmã mais velha trouxe da aula de trabalhos manuais um pouco de barro que me deu um gozo tal apenas porque me permitiu construir e engendrar pequenos utensílios, objectos, animais e figuras humanas.
Uma por uma. Fui mostrar-lhe as minhas obras de arte. Se era um cão, ela dizia que era um cavalo. Uma pessoa, um espantalho. Um cavalo, um cão. E assim sucessivamente. O que me impelia a questioná-la se ela estava mesmo a prestar atenção. Então não se via bem que era um cão, uma pessoa, um cavalo? E não seria a última vez que iria sentir-me da mesma forma, ainda que a uma escala mais abrangente. O barro e os utensílios, os objectos, os animais e as figuras humanas em paralelismo com a vida e as intenções, os sentimentos, as acções e a palavra.

2 - Também acontece que faço o mesmo em relação aos outros. As minhas interpretações baseiam-se exclusivamente num critério de semelhança objectiva de situações. Se a outra pessoa agiu de determinada forma, e eu já fiz o mesmo, foi porque ela sentia o que me passou pela cabeça na altura em que pratiquei o mesmo acto. Redutor talvez. Principalmente por não levar em consideração outros factores igualmente importantes, tais como os estímulos exteriores, a educação, a idade, as origens. Mas se não limitar os meus critérios de avaliação dos vários fenómenos que ocorrem diariamente, poderei ter de me confrontar com uma bagagem pesada e excessiva que me impedirá observar e avaliar outras situações novas e possivelmente estimulantes. Se eu peco por défice há quem peque por excesso e provavelmente terá muito mais a transmitir. (eu deixava aqui o meu contacto a essa pessoa, mas tenho receio que pessoas saudáveis tentem falar comigo).

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Psicologia de Algibeira III (Prozac é a I e astrologia é a II: e eu devia começar a escrever artigos de opinião para a visão ou para a cosmopolitan)

Hoje caí mais uma vez. As pessoas que me conhecem já sabem como é que são normalmente as minhas quedas e os meus azares. Pois a única conclusão a que posso chegar é que não tenho consciência do espaço que ocupo. Fisicamente, não conheço os obstáculos que estão à minha volta e isso é gozo de uns e frustração só minha. Mas mentalmente sei que eles estão ali. Normalmente o que acontece é algo do género "olha ali um buraco, vou desviar-me dele" e depois sou misteriosamente atraída para esse mesmo sítio. Isso é reflexo do quê? Ainda não percebi ainda. Já pensei muito sobre isso mas, sei perfeitamente de que se tenho consciência de que "aquilo" está ali, é algo que faz com que o inevitável aconteça. Será isso um reflexo da natureza humana no mundo físico à minha volta. Será um aviso do meu cérebro em que devo ter mais cuidados com o que eu considero "espaço proibido"? E defino espaço proibido como algo que não deve ser transposto ou tocado. É o buraco no chão. É a chaminé da cozinha. É o chão escorregadio. É aquela ideia que me faz questionar tudo em que acredito. É aquela pessoa. Até posso ser eu.

Os idiotas

Ambivalentes os confrontos das ideias
Paralíticas para vómitos de palavras
Numa surdina de paz negra

(Voluntariado de verborreias bifídas)

Se balanceia o prato disforme
Putrifica a praça de gente
E partilha alcova resfriada com actos repetidos

(E a vontade que não é reflexo da razão)

Porque idiota procura nada
É.