quinta-feira, junho 30, 2005

Dar

Na palavra que te digo
Cada sí-la-ba é rio
Cada l-e-t-r-a é peixe
Palavra ou não
Pode não ser assim
Mas
Gosta de te dar um riso
Anseia por uma blasfémia
Duas mentiras
E três moedas gastas
Mas a palavra que me dás
De volta
É oferenda
É fracção
É tudo menos nada
Somos dois a ouvir
Três
Ou quatro
Somos todos
Estando aqui ou não
Somos palavra transformada em verbo
E verbo feito pela palavra

quarta-feira, junho 08, 2005

Eu sou porque escolhi ser ponto

Vivemos no presente ponto presentes com a fúria de quem sabe que não pode alcançar outras vidas ponto parágrafo vivemos nos apagões de tentativas de apagar memórias selectivas e vírgula de salvaguardar o melhor/pior que existe dentro cá dentro dois pontos queremos sempre o que não pode ser alcançado e vírgula eu quero isto mas não quero aquilo e vírgula aquilo que só vem porque eu quis isto ponto não dá e não quero e não vale porque mais vale não sair de casa ponto mas eu quero quero tanto tanto isto reticências

Memórias selectivas que só existem porque eu quero foi assim porque eu penso que foi assim não foi assim se outros o pensam porque é meu e não posso e não quero apagar

quinta-feira, junho 02, 2005

Encriptação dos desejos

A tua saliva ainda encriptada desaguava na maré e por toda a parte vivia devotada pelos quebrantos também eles afogados em resquícios de virtudes e enquanto sorvias os beijos enegrecidos que devoravam a atmosfera perdida nas nossas acções danificadas por amanheceres antecipados porque viveste vivi vivemos o que tinha de acontecer e assim não podem existir arrependimentos porque tocaste toquei tocámos um no outro e mesmo assim a saudade não permaneceu aqui só mesmo o oposto do desejo não fujas assim agora porque agora não irei atrás de ti


Como nunca senti que tinha ido porque nunca foste fui fomos atrás um do outro